Economia do território


Espigueiros.

MEL

Relacionando os dados arqueológicos identificados com as informações colhidas na
documentação antiga, na cartografia e no registo oral, chegamos à conclusão que a produção de
mel e cera terá tido um especial significado sócio-económico no município de Mondim de Basto,
talvez desde a Idade Média, ocupando largos sectores da população durante séculos. Neste
território, destaca-se pela quantidade de indícios uma parcela próxima da cordilheira do Alvão-
Marão, coincidente com o antigo concelho de Ermelo, região com relevo muito acidentado e
solos com fraca apetência agrícola, factores que terão determinado os modos de vida das suas
gentes e feito depender a sua sobrevivência da exploração de uma gama variada de recursos
onde se salientaram a pastorícia, a recolecção e a apicultura, a par da mineração do cobre e
estanho, da metalurgia do ferro e da feitura de cal. A validação de Ermelo como espaço singular
de produções agro-silvo-pastoris e, particularmente, a sua fertilidade em “miel” é testemunhada
na obra “Población General de España”, escrita em 1695, onde lemos:"Villa de Ermelo está tres leguas de Villa-Real en una sierra fertil de fruta, miel, ganados, algun pan; com 150 vecinos e su parroquia: poblola el rei D. Sancho I. de Portugal año 1195" pag.484/485.
O peso que a apicultura terá tido no contexto das actividades produtivas encontra eco no “Livro de Usos e
Costumes da Igreja de Ermelo”, datado de 1707, o qual releva a obrigação dos fregueses
pagarem dízimo da cera, dos enxames e das colmeias que possuíam (Idem 2000, 259), encargo
que a nosso ver atesta, ainda para o século XVIII, o importante papel daquela actividade no
conjunto das receitas da igreja local.
Estranhamente, as Memórias Paroquiais de 1758 não fazem qualquer referência àquela
produção mas a relevância da apicultura na segunda metade do século XVIII e no século XIX
seria manifesta, como sugere a iconografia do brasão do município, com representação de oito
abelhas, tantas quantas as freguesias que o integram. Por outro lado, a toponímia concelhia, que
regista entre outros nomes os de Muro, Lomba dos Muros, Muradal, Alto da Cilha de Cima,
Malhadas e Abelheira e a presença de tantos restos de muros-apiários, cujas dimensões
subentendem a protecção de milhares de cortiços, alguns deles com reconhecida longevidade
de utilização, parecem apontar no mesmo sentido. (excerto tirado da obra acima referida, pag.7).

Relacionando os dados arqueológicos identificados com as informações colhidas na
documentação antiga, na cartografia e no registo oral, chegamos à conclusão que a produção de
mel e cera terá tido um especial significado sócio-económico no município de Mondim de Basto,
talvez desde a Idade Média, ocupando largos sectores da população durante séculos. Neste
território, destaca-se pela quantidade de indícios uma parcela próxima da cordilheira do Alvão-
Marão, coincidente com o antigo concelho de Ermelo, região com relevo muito acidentado e
solos com fraca apetência agrícola, factores que terão determinado os modos de vida das suas
gentes e feito depender a sua sobrevivência da exploração de uma gama variada de recursos
onde se salientaram a pastorícia, a recolecção e a apicultura, a par da mineração do cobre e
estanho, da metalurgia do ferro e da feitura de cal. A validação de Ermelo como espaço singular
de produções agro-silvo-pastoris e, particularmente, a sua fertilidade em “miel” é testemunhada
na obra “Población General de España”, escrita em 1695, onde lemos:"Villa de Ermelo está tres leguas de Villa-Real en una sierra fertil de fruta, miel, ganados, algun pan; com 150 vecinos e su parroquia: poblola el rei D. Sancho I. de Portugal año 1195" pag.484/485.
O peso que a apicultura terá tido no contexto das actividades produtivas encontra eco no “Livro de Usos e
Costumes da Igreja de Ermelo”, datado de 1707, o qual releva a obrigação dos fregueses
pagarem dízimo da cera, dos enxames e das colmeias que possuíam (Idem 2000, 259), encargo
que a nosso ver atesta, ainda para o século XVIII, o importante papel daquela actividade no
conjunto das receitas da igreja local.
Estranhamente, as Memórias Paroquiais de 1758 não fazem qualquer referência àquela
produção mas a relevância da apicultura na segunda metade do século XVIII e no século XIX
seria manifesta, como sugere a iconografia do brasão do município, com representação de oito
abelhas, tantas quantas as freguesias que o integram. Por outro lado, a toponímia concelhia, que
regista entre outros nomes os de Muro, Lomba dos Muros, Muradal, Alto da Cilha de Cima,
Malhadas e Abelheira e a presença de tantos restos de muros-apiários, cujas dimensões
subentendem a protecção de milhares de cortiços, alguns deles com reconhecida longevidade
de utilização, parecem apontar no mesmo sentido. (excerto tirado da obra acima referida, pag.7).
Centeio
A introdução do centeio nesta região, principalmente na área pertencente ao atual Parque Natural do Alvão, terá sido efectuada pelos Suevos, do Norte da Europa, onde o clima é similar ao das montanhas portuguesas. Terá sido uma mais valia para as populações da parte mais transmontana do atual concelho de Mondim de Basto, havendo anos em que o excesso se vendia para a a região vinhateira do douro), tendo perdido a sua importância nos últimos anos já do século XX.
O centeio, como cereal típico das zonas serranas, de clima frio e agreste, é o cereal que se agarra melhor ao terreno e, apesar de cereal humilde mas resistente, em solos pobres e pouco profundos era tão importante para as gentes, que o próprio bago já merecia o nome de “pão”.
O centeio, cereal, carinhosa e respeitosamente apelidado pelas gentes locais de “pão” (porque cada baguinho representa a subsistência tão dura destas terras) é semeado em fins do Verão início do Outono, passa o Inverno e a Primavera na terra, e é colhido encerrando o ciclo, em pleno tempo quente, no Verão.
…” Em Setembro é quando se semeia. E depois em fins de Julho é cortado e depois “emeda-se” (ata-se) em uns “molhinhos”, numas medas pequenitas, coloca-se num carro de bois. Fazia-se a “acarreja”. “Acarrejados” (trazidos) então da segada, juntam-se os molhes na eira, e com a malhada separa-se o grão de centeio da palha.
Antigamente, as mulheres, no dia anterior à segada, juntavam-se e, preparavam a palha usada para os bancelhos. Deslocavam-se ao rio e aí molhavam a palha, deixando-a mais maleável para ser dobrada Enquanto uns fazem os molhos, as mulheres, apanham o que fica na eira depois de batido o centeio. A eira é então varrida (“conhada”) com pequenas vassouras feitas de giesta e todo o grão (“pão”) que sobra é aproveitado. As espigas caídas durante a malhada são juntas e arranjadas em molhinhos, intitulados “coscos”, e que é alimento para os burros durante o ano.
Era uma época festiva. Havia sempre comida e bebida à disposição que o dono do campo providenciava, para manter alegre os seus ajudantes de lida, o que fazia com que o trabalho fosse acompanhado de cantorias e cantares ao desafio. O trabalho durava um mês, por vezes mais, e cada casa ou família, se ajudava entre si. Apenas os cabaneiros, mais pobres, eram trabalhadores pagos, recebendo ao dia ( jorna e alimentação), bem como espigas para o seu burro e alguma palha para a cama do porco, e ainda algum colmo para a sua casa.As eiras, onde a palha é batida para retirar o cereal (na malhada), eram muitas vezes criadas pelo homem, que, à falta do espaço para o fazer engenhosamente o inventava. Curiosamente, para além das usuais eiras em laje de pedra,podiam-se encontrar também, nas aldeias nortenhas, as eiras feitas com bosta de vaca, guardada ao longo do ano e que era depois batida e alisada para quando seca, servir de base para a malhada, e também como fechamento da porta do forno.
O forno, comunitário, onde as mulheres amassavam o “pão”, trabalhavam e moldavam a farinha até obterem uma bola que era benzida e ia para o forno de onde saía o pão. Cozia-se de 15 em 15 dias e o pão mantinha-se fresco nas “masseiras”, peça de mobiliário essencial.
Nota: Seguindo a tradição da colheita do centeio, no mês de julho, reúne-se o maior número de habitantes e também os emigrantes de visita aos familiares ( para além dos turistas, convidados a observar e participar), e recriam-se as diferentes fases da segada e da malhada. Não tendo a mesma finalidade de antigamente, este processo executa-se hoje, representando, como se de uma peça de teatro se tratasse, essas diferentes fases. Uma vez que o centeio já não é, actualmente, o cereal de eleição das terras altad de Mondim de Basto, na sua dupla função de alimento e cobertura vegetal, a encenação é meramente simbólica do seu aspecto artesanal.